Gênesis 1 - A Criação do céu e da terra
- Olhar de Nossa Senhora
- 19 de mar.
- 7 min de leitura

A humanidade, ponto alto da criação — 1No princípio, Deus criou o céu e a terra.2A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas.
3Deus disse: “Que exista a luz!” E a luz começou a existir.4Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas: 5à luz Deus chamou “dia”, e às trevas chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia.
6Deus disse: “Que exista um firmamento no meio das águas para separar águas de águas!” 7Deus fez o firmamento para separar as águas que estão acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento. E assim se fez. 8E Deus chamou ao firmamento “céu”. Houve uma tarde e uma manhã: foi o segundo dia.
9Deus disse: “Que as águas que estão debaixo do céu se ajuntem num só lugar, e apareça o chão seco”. E assim se fez. 10E Deus chamou ao chão seco “terra”, e ao conjunto das águas “mar”. E Deus viu que era bom. 11Deus disse: “Que a terra produza relva, ervas que produzam semente, e árvores que deem frutos sobre a terra, frutos que contenham semente, cada uma segundo a sua espécie”. E assim se fez. 12E a terra produziu relva, ervas que produzem semente, cada uma segundo a sua espécie, e árvores que dão fruto com a semente, cada uma segundo a sua espécie. E Deus viu que era bom. 13Houve uma tarde e uma manhã: foi o terceiro dia.
14Deus disse: “Que existam luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite e para marcar festas, dias e anos; 15e sirvam de luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra”. E assim se fez. 16E Deus fez os dois grandes luzeiros: o luzeiro maior para regular o dia, o luzeiro menor para regular a noite, e as estrelas. 17Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, 18para regular o dia e a noite e para separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. 19Houve uma tarde e uma manhã: foi o quarto dia.
20Deus disse: “Que as águas fiquem cheias de seres vivos e os pássaros voem sobre a terra, sob o firmamento do céu”. 21E Deus criou as baleias e os seres vivos que deslizam e vivem na água, conforme a espécie de cada um, e as aves de asas conforme a espécie de cada uma. E Deus viu que era bom. 22E Deus os abençoou e disse: “Sejam fecundos, multipliquem-se e encham as águas do mar; e que as aves se multipliquem sobre a terra”.23Houve uma tarde e uma manhã: foi o quinto dia.
24Deus disse: “Que a terra produza seres vivos conforme a espécie de cada um: animais domésticos, répteis e feras, cada um conforme a sua espécie”. E assim se fez. 25E Deus fez as feras da terra, cada uma conforme a sua espécie; os animais domésticos, cada um conforme a sua espécie; e os répteis do solo, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que era bom.
26Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”. 27E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. 28E Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra”. 29E Deus disse: “Vejam! Eu entrego a vocês todas as ervas que produzem semente e estão sobre toda a terra, e todas as árvores em que há frutos que dão semente: tudo isso será alimento para vocês. 30E para todas as feras, para todas as aves do céu e para todos os seres que rastejam sobre a terra e nos quais há respiração de vida, eu dou a relva como alimento”. E assim se fez. 31E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia.
Gênesis 1, o primeiro capítulo da Bíblia, é uma narrativa de criação, um texto que nos oferece um vislumbre profundo da origem do mundo e da nossa existência. Ao lê-lo, somos convidados a refletir sobre a ordem divina e a beleza de um cosmos que surge do nada, de um Deus que fala e faz acontecer. Esse capítulo nos apresenta a história do início, mas, ao mesmo tempo, nos lança questões atemporais sobre o propósito da vida e a relação do ser humano com o Criador.
Logo no primeiro versículo, “No princípio, Deus criou os céus e a terra”, somos introduzidos a uma afirmação fundamental sobre o universo: ele tem uma origem. O “princípio” aqui não é uma simples linha do tempo, mas uma revelação de um momento em que a criação começa a se desdobrar, e esse momento é regido pela ação e palavra de Deus. A criação não é um acaso ou um fenômeno sem propósito, mas é fruto da vontade de Deus, que cria com um objetivo claro: fazer um espaço para a vida, um espaço para a relação.
O que se segue no capítulo é uma sequência ordenada de ações. Deus cria a luz, separa as águas, faz a terra firme surgir, cria as plantas, os astros, os animais e, por fim, o ser humano. Cada ato de criação é seguido de uma afirmação: “E Deus viu que era bom.” Esta expressão aparece repetidamente, indicando que cada passo no processo de criação é um ato de perfeição. A criação não é apenas boa no sentido moral, mas também no sentido de ser adequada à sua finalidade. Tudo foi feito para se encaixar no plano divino, e essa harmonia é uma das lições centrais do capítulo.
A criação da luz, no primeiro dia, já nos dá uma pista da ordem que Deus estabelece. A luz é separada das trevas, estabelecendo um ritmo de distinção, que será refletido em toda a criação. Este é um símbolo poderoso: a luz não apenas ilumina o mundo físico, mas representa também a clareza e a presença de Deus no caos primordial. É por meio da luz que a criação começa a tomar forma, como se a própria luz fosse uma metáfora para a ação divina, que vai organizando e dando propósito ao universo.
Outro aspecto importante desse capítulo é a criação do ser humano. No sexto dia, Deus cria o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança. Esta é uma declaração de imensa dignidade, pois somos feitos com a capacidade de refletir a própria essência de Deus. A imagem de Deus não se refere apenas à nossa aparência física, mas à nossa capacidade de razão, de criar, de viver em comunidade, de escolher e de amar. O ser humano, ao ser colocado no centro da criação, recebe a missão de ser responsável por ela, cuidando e cultivando a terra. A criação do ser humano, nesse sentido, é um chamado à corresponsabilidade com Deus na administração da criação.
Ao longo de Gênesis 1, vemos também a importância do ritmo. A narrativa é dividida em dias, e Deus observa o que foi feito a cada passo, oferecendo a cada dia uma avaliação do que foi criado. No fim, no sétimo dia, Deus repousa, e este descanso não é por cansaço, mas uma culminação da obra realizada. O descanso divino no sétimo dia não é uma pausa na criação, mas um convite ao ser humano para que também ele experimente o descanso em Deus. O dia de descanso, o sábado, é um sinal de que a criação não é uma obra sem fim, mas uma obra que encontra sua plenitude no repouso, na contemplação e no relacionamento com Deus.
Este repouso, no entanto, também aponta para o futuro, para o sentido da história da salvação. No descanso de Deus, podemos ver uma antecipação da vida plena que nos aguarda na eternidade, quando a criação será completamente restaurada e os seres humanos viverão em harmonia com Deus, com os outros e com a criação. O descanso não é apenas físico, mas também espiritual, apontando para a paz que se encontra na comunhão com o Criador.
Refletir sobre Gênesis 1 é, portanto, refletir sobre o propósito da vida e o significado da criação. O que Deus criou, Ele viu que era bom, e esse bem não é apenas uma qualidade estética ou funcional, mas uma expressão do amor divino. Em cada parte da criação, há uma revelação do caráter de Deus — sua ordem, sua bondade, sua beleza. A criação, então, se torna um espelho que reflete a grandeza de Deus e, ao mesmo tempo, um campo de ação onde o ser humano pode cumprir sua vocação de cooperar com Deus na preservação e no cuidado do mundo.
Ao compreender isso, somos desafiados a reavaliar nossa relação com o mundo. Somos chamados a não ver a criação apenas como um recurso a ser explorado, mas como um presente a ser cuidado. Somos chamados a reconhecer o valor da natureza, da vida, da convivência e da harmonia, pois tudo foi criado por um Deus que, no fim de cada dia, olhou para sua obra e disse: “É bom.” E essa bondade se estende a nós também, que somos feitos à Sua imagem e semelhança, convidados a ser guardiões da criação e a viver com um senso de propósito e responsabilidade.
Assim, Gênesis 1 nos oferece uma visão profunda da criação, mas também do Criador. Ele não é apenas o Deus que dá início ao mundo, mas o Deus que se importa com o mundo e com a nossa participação nele. O mundo não existe por acaso, e nossa existência também tem um propósito — sermos colaboradores de Deus na contínua obra de criação, até o momento em que todo o universo encontrará seu repouso definitivo em Deus.
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